Short Fic- Nightingale.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



  • I can't breath withou you, but I have to. 
 Rachaduras na parede me incomodam, ficar encarando-os é um desafio e quase uma dor física. É como se todas as falhas sorrissem para você e dissessem "Tente me concertar, mas sabe que não tem jeito" O único jeito de deixar a parede perfeita é tirar todos os pisos, não só o quebrado e colocar novos.

  Era assim que o meu coração se encontrava, como um piso quebrado. Só que eu não podia tirar o meu coração, joga-lo fora e comprar outro. 

  -Taylor- Alguém me chama pelo que parece ser a sétima vez.

  -Hey- Falei distraída. Eu sabia que as minhas duas melhores amigas a Nina e a Demi estava tentando me animar.

  Estavam me levando ao cinema, para a pizzaria, para parques de diversão e comprando sorvete. Eu sabia que isso era uma distração. Uma distração para a dor.

  A minha dor era um luto.

  -Você não vai tomar o seu sorvete?- Nina perguntou timidamente.

  Olhei para baixo, para a poça do que era um sorvete antes de derreter em um copo sem animação.

  -Sinceramente- Suspirei- Não sei. 

  Ouvi o suspiro das duas também, quando concordaram mentalmente que nada podia me animar. Não que elas já não soubessem disso. Fazia dois meses, mas eu ainda lembrava de cada detalhe. Havia um sorriso em minha mente, gravado em meu coração como uma tatuagem que eu nunca esqueceria, mas que eu nunca mais veria. 

  "Você tem que tentar" Foi um conselho que deveria ser motivador que eu ouvi do orientador da escola ao ver as minhas notas.

  Eu só queria dizer "Meta-se na sua vida. Uma pessoa que eu amava morreu, as notas não me preocupam".

  Para uma aluna com notas 9, tirar um 2 era decepcionante eu sei. Mas eu não sabia o que fazer para fazer isso parar.

  A noite, eu deitava em minha cama, pensava demais e acabava chorando. Porém as lembranças que me faziam chorar, eram as que eu rezava para não esquecer. Eu amava cada imagem, cada aperto de mão, cada risada, cada momento, cada sorriso e cada beijo das memórias.

  Eram memórias de um filme antigo. 

  Eu me sentia um grande buraco fundo e vazia. Eu queria apenas evaporar. Eu não sabia o que queria exatamente. Na verdade eu sabia.

  Eu o queria de volta.

  Ligar para o seu celular milhares de vezes para ouvir a sua voz piorava tudo. A lembrava era um rasgo em meu peito. Então eu olhava o seu antigo Facebook um milhão de vezes por dia.

  E tinha coisas como "Sentimos a sua falta" "Nós te amamos" e essas coisas, eu nem olhava pois havia gente ali que não conversava com ele direito e se sentia no direito de postar fotos com luto e dizer que o amava, essa atitude me deixava doente. Visualizava as nossas conversas e pequenas e maravilhosas coisas como "Eu te amo" "Para sempre".

  "Para Sempre"

  Minhas amigas me deixaram em casa e eu tentei sorrir agradecendo.

  Assim que o carro se foi, me afastei de casa. Eu não quis entrar, eu sabia que iria chorar e os meus pais estavam preocupados com o meu estado. Eu não queria mais ver o olhar de pena deles e nem de ninguém

  Peguei a minha bicicleta e comecei a pedalar estrada a baixo.

  Eu não sabia para onde estava indo, eu só queria... Fugir por um minuto.

  Só que não se pode fugir da realidade.

  Lembrei de como havia sido o acidente, no carro de seu primo. Eu estava em casa.

  Lembro que ele me ligou, estava voltando de uma festa (que eu não quis ir) e seu primo Paul estava dirigindo o carro. Lembro de dizer eu te amo antes de desligar e ele dizer o mesmo. Lembro de ter ido dormir sorrindo.

  Horas depois, acordei com um telefona de seu irmão que chorava muito e pronto, o meu mundo desabou. Ele havia morrido. Seu primo tentou desviar de um cachorro e bateu o carro contra um poste em alta velocidade e o Drew estava sem o cinto de segurança. Entrei em estado de choque.

  E chorei até ficar com a vista embaralhada, sentindo o rasgo em meu peito. O dano que eu estava certa que sentiria para sempre.

  Fechei os meus olhos sentindo novamente a dor, o dano. E finalmente cheguei ao destino que o meu coração queria me levar.

  Olhei para o local, iluminado pela luz da madrugada. E uma plaquinha "Cemitério de Nashville".

  Era um local bonito para um cemitério. Tinha uma grama verde e flores, que mesmo assim não superava o cheiro de morte e as camadas de tristeza.

  Andei pelo caminho e pelos túmulos e parando em um especial que tinha milhares de flores, inclusive uma minha. E tinha escrito ali:

  "Drew Sheeran, amado e querido por todos. 1995 á 2013"  18 anos. Viveu tão pouco.

  Meu Drew, o meu melhor amigo e o meu namorado estava ali. Estando ali eu podia quase senti-lo.

  Eu podia senti-lo em todo lugar, porque o que nós tínhamos nem a morte separava. Eu andava pelo escola como um fantasma, olhando os seus memoriais e sentindo ele do meu lado, com a mão em meu ombro. Eu ia até a minha casa e sentia ele me observando e sorrindo e dizendo "Está tudo bem, você irá ficar bem".

  Mas não estava, nunca mais iria estar.

  Sentei na grama, ajeitando o meu vestido preto.

  -Você sabe que você ficou com o meu coração, não é?- Perguntei para ninguém em especial.

  O vento fez a grama se agitar ao meu redor. Eu sorri com o vento que bagunçava o meu cabelo, era um sorriso genuíno.

  Um sorriso que vinha antes das lágrimas.

  -Porque não importa quanto tempo passe, não importa o quanto a minha vida mude e o quanto eu cresça, você vai ser a minha única certeza solida. 

  Então eu comecei a chorar e a soluçar. A sensação era de que nada podia tirar o vazio. E ninguém me entendia a não ser os pais do Drew. Por que somente eu e eles havíamos perdido algo valioso demais para nós, algo insubstituível. 

  Com um tempo, eu me apoiei no chão (sem me importar) perto do tumulo e dormi chorando ali mesmo.  E tive o meu primeiro sonho com o Drew desde que ele tinha morrido.

  No meu sonho eu estava em um corredor. E correndo por um feixe de luz.

  No final do corredor, havia um menino: Drew. Reconheci o seu cabelo castanho escuros, os olhos azuis e a pele branca, mas sem ser pálida, e o seu sorriso brincalhão.

  Corri diretamente para o seus braços abertos, colocando a minha cabeça em seu ombro, aspirando o seu choro.

  Lágrimas caíram do meu rosto, mas eu sorria de forma triste.

  -Eu sinto a sua falta- Falei para ele.

  Ele suspendeu o meu queixo com a mão e limpou as minhas lágrimas.

  -Por favor, Taylor, não chore- Drew também parecia triste e feliz ao mesmo tempo- Eu sinto a sua falta também.

  -Você não me entende- Sacudi a minha cabeça, bagunçando o meu cabelo furiosamente- Doí tanto sentir a sua falta. Eu acho que eu não consigo...

  -Você consegue Taylor, você é muito mais forte do que pensa. Eu admiro isso em você, sempre admirei. Taylor, você é incrível. E sempre que você se sentir só, eu vou estar ali, por você. Só se lembre que eu te amo.

  Então ele me deu um beijo casto. Eu suspirei, minha cabeça dando voltas.

  -Você tem razão, mas é que é horrível não poder estar mais com você- Lágrimas vieram novamente aos meus olhos.

  -Eu sei, eu também sinto tanto a sua falta que doí. Mas é doloroso mais ainda ver você morrer junto comigo. Você tem uma vida Taylor, uma vida cheia de pessoas que te amam, assim como eu. Todos estão preocupados.

  -Eu não consigo respirar sem você...- Gaguejei. Ele me silenciou, me olhando com os seus olhos azuis olhando os meus.

  -Sim, você consegue! E deve- Afirmou firmemente- Não estou pedindo para me esquecer, mas deve se lembrar de que mesmo não me vendo, eu vejo você. Eu quero que siga a sua vida, que se forme, vá para uma faculdade, que tenha uma vida feliz e plena.

  A ideia de ter um futuro que não o incluía me assustava.

  -Eu nunca vou te esquecer Drew, você sempre vai ser o meu melhor amigo- Falei para ele.

  -Eu também não Taylor. Você vai ser sempre a garota loira linda e teimosa que eu amo- Ele disse.

  -Eu também te amo... Para sempre- O beijei.

  -Para sempre- Ele afirmou.

  Então ele começou a desaparecer sobre as minhas vistas.

  Não. Eu queria mais tempo, queria memorizar mais o seu rosto  que eu já havia decorado de cor.

  Então eu acordei, ainda deitada no tumulo. Esfreguei os meus olhos sonolentos e me levantei.

  O sonho havia sido tão real, eu sentia que havia sido real. 

  Eu senti uma presença familiar do Drew ao meu redor e sorri largamente.

  "E sempre que você se sentir só, eu vou estar ali, por você. Só se lembre que eu te amo."

  -Eu vou tentar Drew- Sussurrei contra o vento- Por você, por mim e por todos. Porque eu te amo. E vou te amar para sempre.

  Quase podia sentir o seu sorriso. Sim, eu sentia. E sempre continuaria sentindo o seu amor.

 Em quanto o Drew estivesse em meu coração, em minhas lembranças, eu o amaria. Por que o nosso amor é um laço que nada pode cortar. Amor não se substitui ou esquece. O meu amor por ele seria eterno. Sempre.

  Memórias nunca morrem, muito menos o amor. 


FIM

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